Como líderes moldam destinos e confrontam controvérsias

O poder é uma força ambivalente, capaz de moldar destinos e alterar o curso de vidas, tanto em escala individual quanto coletiva. Nas mãos de líderes de empresas e instituições públicas, ele se torna uma ferramenta que pode tanto construir como destruir. Este artigo explora a complexidade das decisões tomadas em posições de poder e como elas reverberam nas vidas das pessoas e na saúde das organizações.
Em sua essência, o poder confere a capacidade de tomar decisões que têm um amplo alcance de influência. Um CEO de uma grande corporação, por exemplo, pode decidir sobre a expansão ou o encolhimento de operações, o que pode resultar em novos empregos ou em demissões em massa direta ou indiretamente ligadas à empresa. Da mesma forma, um político no comando de uma cidade ou país tem o poder de implementar políticas que afetarão a economia local, a educação, a saúde e a segurança de seus cidadãos.
Um exemplo histórico no cenário corporativo é a decisão da IBM em desinvestir de seu negócio de hardware de computadores pessoais em 2005, vendendo essa divisão para a Lenovo. Esse movimento não só redirecionou o foco da IBM para serviços e software, alterando significativamente a estrutura da indústria de tecnologia global, mas também afetou milhares de empregos e criou uma nova potência tecnológica na Ásia. Por outro lado, a nível político, a implementação da Reforma Agrária na China por Mao Tsé-Tung a partir de 1950 transformou a estrutura socioeconômica do país, impactando mais de 300 milhões de camponeses, redistribuindo terras anteriormente controladas por senhores feudais para famílias camponesas, o que modificou radicalmente a produção agrícola e as condições de vida rural na China.
Em 2020, diante da disseminação global da COVID-19, o Brasil enfrentou uma das decisões mais críticas e polêmicas: adotar ou não medidas de confinamento e isolamento social sob a máxima “Fica em casa, economia se vê depois”. Esta escolha, defendida por muitos especialistas em saúde pública como essencial para conter a rápida propagação do vírus, implicou fechamento de comércios, escolas e a paralisação de grande parte das atividades econômicas não essenciais.
As consequências econômicas dessa decisão foram profundas e imediatas. O PIB brasileiro sofreu uma retração significativa, refletindo a paralisação das atividades. Pequenas e médias empresas enfrentaram desafios extremos, com muitas não conseguindo sobreviver ao período prolongado de baixa ou nenhuma receita. O desemprego aumentou rapidamente, afetando milhões de trabalhadores, e a desigualdade se acentuou, visto que as camadas mais vulneráveis da população foram as mais impactadas tanto pela crise de saúde quanto pela crise econômica.
Embora acredita-se que as medidas de confinamento tenham sido eficazes em desacelerar a propagação do vírus e em evitar um colapso ainda maior do sistema de saúde, a decisão de priorizar a saúde em detrimento da economia trouxe um debate acirrado sobre o equilíbrio entre acreditar estar protegendo a vida e manter a sustentabilidade econômica. Esse dilema destacou o peso das decisões governamentais em momentos de crise e as complexas trade-offs que líderes devem enfrentar em situações de emergência global.
Essas decisões raramente são simples ou isentas de consequências negativas. A decisão de cortar custos e demitir funcionários, embora possa ser necessária para a sobrevivência de uma empresa durante tempos econômicos difíceis, impacta diretamente as vidas dos empregados e de suas famílias. O dilema ético surge quando o benefício de muitos entra em conflito com o prejuízo de alguns. Esses exemplos destacam a complexidade e o impacto duradouro das decisões tomadas por aqueles em posições de poder, tanto em contextos corporativos quanto políticos.
A percepção das ações de um líder pode variar grandemente dependendo da perspectiva. O que para alguns pode parecer um ato de heroísmo — salvar uma empresa da falência, por exemplo — pode ser visto por outros como um ato de crueldade, especialmente por aqueles diretamente afetados por demissões. Isso levanta uma questão fundamental sobre o poder: ele é inerentemente bom ou mau, ou é a intenção e o resultado de suas ações que definem seu caráter?
Um exemplo emblemático no cenário corporativo é o da Kodak, que, ao decidir não investir suficientemente na fotografia digital para proteger seu negócio de filmes fotográficos, acabou falhando em se adaptar às mudanças de mercado e entrou em declínio. Em contraste, a decisão da Netflix de mudar de um serviço de aluguel de DVDs para streaming é frequentemente vista como visionária, salvando a empresa da obsolescência e remodelando a indústria de entretenimento. Enquanto a Netflix prosperou, muitos trabalhadores da indústria tradicional de locação de vídeos perderam seus empregos.
No âmbito da política mundial, figuras como Winston Churchill enfrentaram dilemas semelhantes durante a Segunda Guerra Mundial. Suas decisões, como os bombardeios estratégicos, foram essenciais para debilitar o regime nazista, mas também causaram grandes perdas civis e são frequentemente debatidas em termos de moralidade e eficácia. A decisão, embora estratégica e tida por muitos como necessária, ilustra como ações de liderança podem ser heroicas para uns e atos de violência para outros.
No Brasil, a Reforma da Previdência, promulgada em 2019, serve como um exemplo contemporâneo. As mudanças, que visavam garantir a sustentabilidade financeira do sistema previdenciário, foram vistas por muitos como essenciais para a economia. Por outro lado, críticos argumentaram que as novas regras impunham condições mais duras para a aposentadoria, afetando desproporcionalmente as populações mais vulneráveis e trabalhadores de baixa renda.
A complexidade moral do poder nas corporações é evidenciada na responsabilidade social das empresas. Um líder pode optar por implementar práticas sustentáveis que talvez diminuam os lucros imediatos em favor de benefícios ambientais e sociais a longo prazo. A decisão da Unilever de buscar fontes sustentáveis para suas matérias-primas e reduzir a pegada ambiental de seus produtos é um exemplo. Essas decisões podem ser aplaudidas como atos de responsabilidade e visão futurista, mas também podem ser criticadas por acionistas focados em retornos de curto prazo, como aconteceu quando algumas iniciativas sustentáveis impactaram inicialmente os lucros da empresa.
Esses exemplos mostram que as decisões de líderes, sejam eles políticos ou corporativos, são multifacetadas e suas reverberações podem ser amplas e contraditórias, dependendo da perspectiva dos afetados. Avaliar a moralidade dessas ações depende intrinsecamente da visão de mundo e dos valores de quem as julga.
Cada decisão tomada por alguém em posição de poder pode ser vista como uma pedra jogada em um lago: as ondulações se espalham muito além do ponto inicial de impacto. Líderes devem, portanto, pesar suas ações não só em termos de resultados econômicos ou benefícios imediatos, mas também considerar o bem-estar social e emocional de seus empregados e da comunidade.
Além disso, o isolamento é uma realidade comum para aqueles no topo, onde as decisões devem ser tomadas muitas vezes sem o consenso geral de apoio. Este isolamento pode levar a uma desconexão entre a liderança e aqueles afetados por suas decisões, aumentando a complexidade moral e emocional das responsabilidades de um líder.
Um exemplo ilustrativo dessa dinâmica pode ser observado na presidência de Barack Obama durante a crise financeira iniciada no final de 2008. Apesar da controvérsia e da falta de apoio unânime, Obama tomou decisões cruciais para implementar o pacote de estímulo econômico e o resgate do setor automobilístico. Essas medidas foram fundamentais para estabilizar a economia, mas também foram criticadas por aqueles que as viam como um socorro indevido às grandes corporações, deixando de lado os interesses dos cidadãos comuns.
No mundo corporativo, Marissa Mayer, ex-CEO da Yahoo, enfrentou uma situação similar. Ao assumir a liderança de uma empresa em declínio, Mayer tomou decisões radicais, como a proibição do trabalho remoto e a aquisição de várias startups para revitalizar o portfólio da Yahoo. Essas ações não tiveram o consenso da equipe e geraram considerável insatisfação interna. A desconexão percebida entre suas decisões e as necessidades da equipe exacerbou os desafios, destacando a solidão que líderes enfrentam ao tomar decisões impopulares ou controversas.
O isolamento dos líderes pode complicar as relações entre decisões estratégicas e suas repercussões humanas. A necessidade de liderar em meio à adversidade e à falta de consenso testa a resiliência e a integridade moral dos que estão no comando, ao mesmo tempo que ressalta o peso do isolamento na tomada de decisões eficazes, mas potencialmente divisíveis.
O poder, portanto, é um fardo tanto quanto um privilégio. As decisões feitas por líderes corporativos ou públicos têm a capacidade de influenciar vidas e moldar futuros. Reconhecer a magnitude dessas decisões e considerar suas múltiplas consequências é fundamental para administrar o poder de maneira justa e eficaz. No fim, a verdadeira medida de um líder pode ser encontrada na sua capacidade de equilibrar corajosamente o bem-estar coletivo com a compaixão pelos indivíduos afetados por suas escolhas.
Participação: “Envie suas perguntas e comentários! Adoramos ouvir suas ideias e sugestões sobre como podemos melhorar nossa news!!
francisco.garcia@difini.com.br
Confira a TV Humana, a WebTV dedicada a mostrar o “lado bom da humanidade”. Como fundador, tenho o privilégio de colaborar com um grupo de amigos altamente talentosos e capacitado, criando conteúdo dinâmico focado em educação, entretenimento e cultura. Acesse www.tvhumana.com.br e confira meu programa semanal, “Papo na Cidade“, onde converso com personalidades de diversos segmentos. Venha explorar conosco os aspectos mais positivos da vida!