A Geração “Oitentista” que está redesenhando o conceito de Velhice

Conceituando o que é ser idoso no Brasil
No Brasil, a legislação define como idoso todo indivíduo com 60 anos ou mais de idade, conforme o Estatuto do Idoso (Lei n.º 10.741/2003).
Porém, para além de uma mera faixa etária, ser idoso no contexto brasileiro abrange questões culturais, sociais e históricas que moldam a percepção sobre o envelhecimento. A diversidade continental do país — refletida em diferenças regionais, raciais e socioeconômicas — cria realidades multifacetadas para as pessoas que chegam a essa fase da vida.
Os idosos brasileiros de hoje cresceram sob influências econômicas, tecnológicas e socioculturais muito distintas das de gerações passadas, vivendo um período de intensas transformações e de crescimento da oferta de serviços de saúde e políticas públicas de assistência. Ainda assim, persistem desafios como o acesso desigual à saúde, a disparidade de renda, o preconceito etário (idadismo) e a falta de inclusão digital em algumas faixas da população.
É dentro desse cenário amplo e complexo que surge uma parcela de idosos cada vez mais ativa e conectada às mudanças tecnológicas, buscando autonomia e qualidade de vida. No entanto, também existe um contingente que ainda enfrenta dificuldades de acesso a recursos básicos, evidenciando a necessidade de políticas inclusivas e do olhar atento de toda a sociedade.
Entender o que é ser idoso no Brasil exige, portanto, uma abordagem que contemple todas essas variáveis e reconheça a rica pluralidade de experiências que marcam a vida de quem atinge a chamada “terceira idade”. Somente ao levar em conta as trajetórias pessoais e coletivas, as conquistas ao longo das décadas e os desafios ainda existentes, podemos elaborar um retrato fiel e inclusivo do envelhecimento em nosso país.
Nesse contexto acima eu me encaixo, pois faltam exatamente um ano para eu ser considerado um “idoso”, tenho meus 59 anos e minha cabeça é de 35, porém o corpo não.
Uma nova geração de idosos: como os adolescentes dos anos 1980 estão redefinindo o envelhecimento
Os anos 1980 marcaram uma era de transformações culturais, musicais e, principalmente, tecnológicas. Quem foi adolescente, como eu que em 1980 tinha 14 anos, nesse período presenciou o surgimento de computadores pessoais, videocassetes, walkmans, videogames e tantos outros avanços que transformaram a forma de viver e se conectar com o mundo. Agora, essas pessoas estão chegando ou já chegaram à “3a idade” e, ao contrário de gerações passadas, trazem consigo uma familiaridade significativa com inovações. Surge, então, uma nova “classe” de idosos que se destaca pelas vivências e pelo relacionamento com a tecnologia e com a percepção do que é o mundo.
Tradicionalmente, os idosos sempre foram vistos como um público mais resistente às mudanças. Em grande parte, porque cresceram em um período em que o acesso à tecnologia era mínimo ou inexistente, tornando mais complexa a tarefa de se adaptar às inovações que chegaram nos anos seguintes. Porém, para quem foi adolescente nos anos 1980, a história é diferente:
A geração de adolescentes dos anos 1980 presenciou o boom dos computadores domésticos, do surgimento da internet, da globalização da música e de outros avanços disruptivos que moldaram nossas rotinas.
Essa bagagem tecnológica impacta diretamente na maneira como esses novos idosos interagem com produtos, serviços e marcas. Eles entendem a lógica das plataformas digitais, utilizam redes sociais para manter contato com familiares, amigos, compras, divulgar produtos, enfim para tudo. Compras on line é um elemento normal e essencial. Aplicativos de Smartphones são itens normais, sendo que muitos deles foram projetados pelos mesmos “idosos”.
Assim, há um potencial enorme para empresas que souberem enxergar esse público de forma diferenciada, desenvolvendo soluções que atendam às necessidades de quem já tem uma vivência digital considerável.
Os desafios para empresas de publicidade e as oportunidades para quem fornece produtos e serviços
Há décadas, o mercado publicitário e as empresas de produtos e serviços em geral concentraram grande parte de seus esforços na faixa etária de 18 a 49 anos.
Esse público, tradicionalmente, é visto como o mais ativo economicamente, o que se reflete em campanhas de marketing, em inovações de produto e em toda a estrutura de comunicação das marcas. No entanto, esse cenário vem passando por profundas transformações à medida que a população envelhece e vivencia mudanças significativas em seu perfil de consumo, notadamente no que se refere ao domínio de tecnologias digitais.
Os adultos que foram adolescentes nos anos 1980 estão inaugurando uma nova forma de ser idoso, bem diferente das gerações anteriores.
Se, no passado, muitos idosos enfrentavam barreiras quase intransponíveis para lidar com inovações – devido à limitada presença de tecnologia em seu cotidiano de juventude –, hoje, aqueles que viveram a adolescência na época do surgimento de videocassetes, computadores pessoais, walkmans e videogames contam com uma ampla bagagem de referências culturais e tecnológicas. Assistiram ao nascimento e à consolidação da internet e, mesmo que nem todos tenham se tornado “experts” em tecnologia, a maioria está longe de ser alheia ao mundo digital.
Essa nova realidade cria um potencial enorme para empresas que souberem enxergar esse público de forma diferenciada.
Desenvolvendo soluções que atendam às necessidades de quem já tem uma vivência digital considerável. Aqui vão algumas sugestões:
1. Estratégias personalizadas e o poder da nostalgia
Além de estarem conectados, esses novos idosos carregam consigo o forte apelo emocional da cultura pop dos anos 1980, marcada pela música, pela estética e por movimentos culturais que deixaram saudades. Para as marcas, usar referências nostálgicas dessa época pode gerar identificação e engajamento, seja por meio de trilhas sonoras, imagens icônicas ou até mesmo a reedição de produtos clássicos. Campanhas que resgatam elementos visuais e musicais que marcaram a geração podem ter grande impacto, pois remetem a memórias afetivas e estabelecem uma ponte entre o passado e o presente tecnológico. As produções cinematográficas de Hollywood tem usado esses recursos em muitos lançamentos com trilhas sonoras do anos 1980 em seus filmes.
2. Interfaces intuitivas e inclusivas
As empresas devem investir em design acessível e em plataformas amigáveis, reconhecendo tanto as habilidades quanto as possíveis limitações desse público em relação à usabilidade. Embora estejam habituados às ferramentas digitais, alguns ajustes são cruciais para garantir conforto e inclusão, já que a maioria desses idosos NÃO PENSA como idoso, mas o corpo não acompanha a cabeça. Fontes maiores, instruções claras, tutoriais em vídeo e opções de acessibilidade são apenas alguns exemplos de medidas que podem aumentar a aderência desses usuários aos novos serviços. A IA como tutor é algo que precisa ser usado em escala.
Importante destacar que esse público não quer ser subestimado. Eles conhecem bem os conceitos de softwares, sites e aplicativos e, muitas vezes, apenas precisam de algumas adaptações para sentirem mais segurança na hora de navegar. Quando as marcas acertam nesse ponto, conquistam consumidores fiéis, pois valorizam a autonomia e o respeito à experiência de cada indivíduo.
3. Conteúdos e serviços focados na autonomia
Outro fator determinante para quem envelhece conectado é a busca por independência. A tecnologia pode ser uma aliada poderosa ao permitir o acesso a diversos serviços sem precisar sair de casa, desde consultas médicas online até cursos de atualização profissional ou de lazer. Além disso, os aplicativos de saúde estão em alta, seja para monitorar a pressão arterial, para controlar medicamentos ou para traçar metas de exercícios físicos.
A criação de comunidades virtuais e fóruns de discussão, por exemplo, possibilita a troca de experiências e o acesso rápido a informações confiáveis. Nesse sentido, pensar em produtos e serviços que auxiliem na manutenção e na melhoria da qualidade de vida, fomentando a troca de conhecimento entre pares, pode ser a chave para atingir esse público de maneira efetiva.
Oportunidades impulsionadas pela IA
Por fim, não se pode ignorar a revolução trazida pelas ferramentas de Inteligência Artificial (IA). Esse novo cenário abre espaço para aproveitar ao máximo a experiência e a bagagem profissional dos idosos de hoje, sem que eles precisem ficar presos a um modelo rígido de trabalho presencial em tempo integral. Com a IA, é possível flexibilizar rotinas, automatizar tarefas repetitivas e dar vazão à criatividade e ao know-how acumulado ao longo de décadas de trabalho, tudo isso de forma remota ou em regimes de horário mais ajustados às preferências desse público.
As empresas que entenderem o valor dessa contribuição poderão criar programas de mentoria e consultoria remota, por exemplo, em que os profissionais mais experientes atuem como “cérebro estratégico”, solucionando problemas complexos e treinando equipes com o apoio de ferramentas de IA. Dessa forma, a produtividade torna-se ainda maior, pois o idoso pode se dedicar às áreas onde é mais competente e desfrutar de maior liberdade para equilibrar vida pessoal e trabalho.
A tecnologia, portanto, surge não só como aliada para a inclusão digital, mas também como instrumento que aprimora e prolonga a atuação dos idosos no mercado, respeitando suas necessidades de autonomia e bem-estar. Esse casamento entre experiência e inovação é capaz de impulsionar resultados, reinventar modelos de negócio e, ao mesmo tempo, enriquecer a convivência entre diferentes gerações dentro das empresas.
Em síntese, a geração de idosos que foi adolescente nos anos 1980 está redefinindo completamente o conceito de envelhecer. Familiarizados com a tecnologia, dotados de vasta experiência e agora contando com ferramentas de Inteligência Artificial, eles são capazes de contribuir de forma estratégica, sem abrir mão de liberdade e qualidade de vida. Para as empresas, abraçar essa nova realidade significa valorizar a sabedoria acumulada, incentivar a inovação e criar ambientes de trabalho mais flexíveis e acolhedores. Quem perceber essa oportunidade de unir maturidade e modernidade tem tudo para prosperar em um mercado cada vez mais competitivo e dinâmico.
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