Dos Coprocessadores Matemáticos aos Motores de Inteligência Artificial – A evolução das GPUs

As GPUs (Graphics Processing Units) passaram por uma transformação impressionante desde seu surgimento nos anos 1970 como coprocessadores matemáticos para computação gráfica até se tornarem peças fundamentais para a inteligência artificial e análise de dados atualmente. Inicialmente voltadas exclusivamente para cálculos gráficos, as GPUs modernas transcenderam essa função, transformando-se em processadores altamente eficientes e de propósito geral, especialmente úteis em tarefas que exigem grande poder de processamento paralelo.
Nos anos 1970, o avanço da computação gráfica impulsionou a necessidade de maior poder de processamento, especialmente em setores industriais e científicos. As CPUs da época, como as fabricadas pela Intel e pela IBM, eram limitadas para cálculos complexos, principalmente aqueles necessários para simular gráficos, um campo em rápida expansão. A resposta para essa demanda veio com os coprocessadores matemáticos, dispositivos específicos para cálculos aritméticos de ponto flutuante, essenciais para renderizações em 2D, gráficos técnicos e cálculos científicos detalhados. Empresas como IBM e Digital Equipment Corporation (DEC) foram algumas das poucas capazes de fabricar esses processadores especializados, que eram caros e restritos a grandes laboratórios de pesquisa e a empresas de engenharia.
Os coprocessadores matemáticos serviam a tarefas específicas em gráficos 2D e também em novas aplicações de design, como o CAD/CAM (Computer-Aided Design e Computer-Aided Manufacturing), que surgia como uma ferramenta revolucionária para engenheiros e arquitetos ao permitir a modelagem precisa de produtos, peças e construções diretamente no computador. A demanda por esses softwares impulsionou o uso dos coprocessadores, uma vez que os cálculos gráficos complexos necessários para essas aplicações iam além da capacidade das CPUs tradicionais. Softwares CAD/CAM começaram a ser adotados principalmente na indústria automobilística, aeroespacial e em grandes projetos de construção, onde a precisão no design e na fabricação era essencial.
Nesse mesmo período, surgiram também os primeiros computadores baseados em arquitetura RISC (Reduced Instruction Set Computing), como o IBM 801 e o MIPS R2000. Esses computadores foram projetados com uma estrutura de processamento simplificada, o que lhes permitiu realizar operações em menos ciclos de máquina, tornando-os mais rápidos para cálculos básicos, mas ainda insuficientes para a carga gráfica exigida por ferramentas como CAD/CAM.
Assim, os coprocessadores matemáticos funcionavam como uma solução adicional a essas limitações, sendo utilizados em conjunto com computadores RISC e CPUs de uso geral. Isso permitiu a execução de cálculos gráficos e científicos complexos, preparando o terreno para as GPUs modernas, que trariam uma nova era na computação gráfica, agora fundamental em diversos setores industriais.
Entre 1988 e 1989 eu trabalhei com uma ferramenta de CAD para projeto de placas de circuito impresso, o software em questão já era projetado para só funcionar em computadores com coprocessadores matemáticos, na época eram os falecidos “286“, eu tive o prazer na época de testar o software em um equipamento “386” recém lançado, a diferença no processamento automático para geração do projeto de um placa que utilizamos na automação de um cliente foi a seguinte: No 286 demorou 26 horas de processamento ininterrupto, enquanto que no 386 foram necessárias apenas 2:30 horas de processamento. Hoje isso provavelmente seria com a capacidade computacional atual, alguns poucos minutos. Para aqueles que acham que o Brasil não tinha tecnologia antigamente, corrijo-os, na época trabalhávamos com o que tinha de mais avançado no mundo, o único problema é que a tecnologia para TODOS naquela época andava mais devagar, então demorava um pouco para as tecnologias mais modernas chegarem ao Brasil. O CAD ao qual me referi no relato acima era o P-CAD e na época era o supra sumo de tecnologia para projetos com eletrônica, incluindo um módulo do que hoje podemos chamar de “IA embarcada”.
Na década de 1990, com o avanço dos gráficos 3D, as GPUs começaram a evoluir rapidamente. A demanda por renderizações gráficas mais realistas para jogos, simuladores e softwares de modelagem gráfica incentivou o desenvolvimento de GPUs que pudessem processar grandes volumes de cálculos geométricos e de luz em tempo real.
Nessa época, empresas como 3dfx e NVIDIA começaram a se destacar com produtos que tornaram possível a experiência gráfica em 3D. Em 1999, a NVIDIA lançou a GeForce 256, considerada a primeira “GPU” propriamente dita, pois era capaz de realizar uma gama completa de tarefas gráficas, incluindo transformações e iluminação (T&L), de forma independente da CPU. A GeForce 256 foi um divisor de águas, marcando o início da GPU como conhecemos hoje: um processador especializado com capacidade de processar gráficos complexos e de maneira altamente paralela.
Nos anos 2000, as GPUs evoluíram rapidamente em capacidade de processamento e flexibilidade. As empresas começaram a investir no conceito de “programação paralela” das GPUs, ou seja, a possibilidade de dividir uma tarefa em milhares de pequenos processos que podem ser realizados simultaneamente.
A NVIDIA introduziu a arquitetura CUDA (Compute Unified Device Architecture) em 2006, permitindo que as GPUs fossem usadas em tarefas que não envolvem gráficos, como cálculos científicos e simulações. Essa arquitetura abriu caminho para o uso das GPUs em áreas de computação de alto desempenho, como física computacional e bioinformática, permitindo que cientistas e pesquisadores aproveitassem o poder paralelo das GPUs para realizar cálculos intensivos com maior eficiência do que as CPUs.
A década de 2010 foi um marco para as GPUs, especialmente devido ao crescimento explosivo do aprendizado de máquina e da inteligência artificial. Redes neurais profundas, que exigem processamento massivo e paralelo, revelaram-se incrivelmente adequadas para a arquitetura das GPUs, especialmente para tarefas de treinamento, onde grandes quantidades de dados são processadas em paralelo.
Empresas como Google, Amazon e Tesla começaram a adotar GPUs em suas arquiteturas de IA, acelerando significativamente o desenvolvimento de algoritmos de aprendizado de máquina e inteligência artificial. Em 2012, a famosa rede neural AlexNet, treinada com GPUs, venceu a competição ImageNet de reconhecimento de imagens, mostrando ao mundo o poder das GPUs para aplicações em IA. Desde então, as GPUs tornaram-se essenciais em pesquisas de IA, permitindo avanços em áreas como visão computacional, reconhecimento de voz e processamento de linguagem natural.
Além disso, a NVIDIA lançou a série de GPUs Tesla, especificamente projetadas para aprendizado de máquina e IA, enquanto AMD e outras empresas começaram a desenvolver produtos de IA para competir nesse mercado emergente.
Atualmente, as GPUs não são apenas processadores gráficos, mas plataformas completas para computação em nuvem, big data e inteligência artificial. Elas são usadas em data centers ao redor do mundo, alimentando serviços de IA em escala, incluindo recomendações de conteúdo, traduções, assistentes virtuais e muito mais.
Com o avanço das arquiteturas multi-GPU, como a NVIDIA A100 e H100, as GPUs de última geração podem lidar com treinamentos de IA massivos em tempo recorde, permitindo que empresas desenvolvam e implementem modelos de IA em escalas nunca antes imaginadas. Além disso, as GPUs tornaram-se fundamentais para o processamento de dados em larga escala, permitindo análises em tempo real e ajudando empresas a gerenciar e interpretar volumes gigantescos de dados.
O uso de GPUs em aplicações de big data também se expandiu com o surgimento de plataformas de GPU na nuvem, como Google Cloud, Amazon Web Services (AWS) e Microsoft Azure. Agora, empresas de todos os portes podem alugar o poder de processamento paralelo das GPUs em seus projetos de dados e IA, democratizando o acesso a essa tecnologia.
No horizonte da tecnologia, a computação quântica e as GPUs estão se aproximando para criar um novo paradigma de processamento. Enquanto as GPUs modernas são extraordinárias para cálculos paralelos e massivos, usadas em IA e análises de big data, a computação quântica oferece uma abordagem radicalmente nova para resolver problemas complexos, abordando-os com base nas propriedades quânticas da física, como a superposição e o entrelaçamento quântico.
A computação quântica utiliza qubits em vez dos bits tradicionais das CPUs e GPUs. Os bits comuns só podem estar no estado 0 ou 1, enquanto os qubits podem estar em ambos os estados ao mesmo tempo graças à superposição. Essa propriedade permite que um computador quântico processe múltiplas soluções ao mesmo tempo, tornando-o ideal para resolver problemas de otimização, simulação de moléculas e criptografia, onde as possibilidades são numerosas e complexas.
Para alcançar o máximo potencial, é provável que os computadores do futuro combinem computação clássica (CPUs e GPUs) com computação quântica, criando uma arquitetura híbrida que aproveite o melhor de cada tecnologia. As GPUs são extraordinárias para executar tarefas de processamento massivamente paralelo, como aprendizado de máquina e simulações gráficas, enquanto a computação quântica é mais eficiente para problemas de otimização e simulações químicas que desafiam a computação clássica.
Essa combinação seria ideal, por exemplo, para treinar modelos de IA com alta complexidade. A GPU lidaria com a maior parte do processamento paralelo, enquanto o processador quântico poderia abordar problemas de ajuste de parâmetros ou otimização de redes neurais em níveis muito mais profundos. Esse modelo de computação quântica auxiliada por GPU já está sendo explorado em centros de pesquisa, com empresas como IBM, Google e NVIDIA desenvolvendo tecnologias para integrar as duas áreas.
Algumas áreas em que essa união entre GPUs e computação quântica promete causar uma revolução são:
- Simulações Moleculares e Químicas: Para descobrir novos materiais e medicamentos, é preciso simular interações moleculares em um nível muito preciso. A computação quântica pode resolver os cálculos complexos que surgem nessas interações, enquanto as GPUs aceleram o processo de simulação e visualização.
- Otimização Logística: Em logística e cadeias de suprimentos, encontrar a rota mais eficiente ou o melhor uso de recursos pode envolver um número exponencial de combinações. A computação quântica, com sua capacidade de otimização, somada ao processamento rápido das GPUs, poderia transformar a eficiência em larga escala desses setores.
- Segurança e Criptografia: A criptografia quântica promete uma segurança quase inquebrável, mas exige computação pesada para gerar e verificar chaves complexas. As GPUs e processadores quânticos, trabalhando em conjunto, poderiam sustentar um novo nível de segurança em sistemas financeiros, governamentais e de comunicações.
Apesar do grande potencial, a computação quântica enfrenta desafios consideráveis, como o controle de erros e a estabilidade dos qubits, que ainda exigem temperaturas extremamente baixas e ambiente controlado. Além disso, a tecnologia ainda está em fase de desenvolvimento experimental, e uma infraestrutura prática e escalável ainda deve ser construída. As GPUs, por sua vez, têm o desafio de adaptar-se a uma arquitetura híbrida onde trabalhem em sinergia com os processadores quânticos. Isso envolve desde ajustes no software de integração até novos protocolos de computação paralela quântica e clássica.
A interação entre GPUs e a computação quântica representa o futuro da tecnologia de processamento. Essa fusão híbrida promete resolver problemas que, até então, eram considerados intratáveis, transformando a pesquisa científica, as indústrias de tecnologia, a segurança digital e até as operações do dia a dia. Em um futuro não muito distante, veremos GPUs e computadores quânticos trabalhando lado a lado, revolucionando a ciência, a tecnologia e, essencialmente, o modo como resolvemos problemas complexos em escala global.
De coprocessadores matemáticos rudimentares a pilares da computação em nuvem e IA, as GPUs evoluíram drasticamente nas últimas cinco décadas. Esse progresso não só transformou o campo da computação gráfica, mas também impulsionou a inteligência artificial, a análise de dados e a ciência. A capacidade única das GPUs de realizar processamento paralelo em larga escala continua a impulsionar inovações tecnológicas e redefinir o que é possível na computação moderna.
O futuro das GPUs parece promissor, com novas tecnologias, como computação quântica e IA avançada, onde elas devem continuar desempenhando um papel central. Com isso, o que antes era um componente limitado ao mundo dos gráficos e jogos agora é parte essencial das maiores inovações tecnológicas e científicas de nosso tempo.
Esse teve o objetivo de voltar a seriedade, no meu ultimo artigo, fiz uma “brincadeira” sobre nosso futuro enquanto humanos convivendo com a realidade atual da Inteligência Artificial. Porém nesse artigo eu mostro que o que foi tratado como uma brincadeira, poderá ser a realidade daqui a 100 anos.
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